Holly Niemela e Edouard Payen é um casal francês que escolheu o concelho de Vila Pouca de Aguiar para construir um resort ecológico, um empreendimento turístico inovador, em contexto de natureza, constituído por seis unidades de alojamento, entre outros equipamentos, com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar.
Sem pensar inicialmente em investir na região, o casal contou que Portugal surgiu quase por acaso. “Em 2015, encontramos este lugar, um dia, quando eu e o meu marido procurávamos um sítio em contexto natural, para criar um refúgio que privilegiasse a saúde, o bem-estar e o contacto com a natureza”, conto Holly, admitindo que o nosso país não estava, inicialmente, nos planos.
“Procuramos por todo o mundo, na verdade. Um dia, ele disse, porque não Portugal? Eu disse OK, mas não tinha a certeza de que iríamos encontrar alguma coisa. De seguida pesquisamos na Internet terrenos à venda e encontramos este. Um mês depois visitamos o local, adoramo-lo e compramo-lo de imediato. Foi aí que o projeto começou”, acrescentou a terapeuta francesa, que também tem nacionalidade americana.
Holly e Edouard confessaram que o local, junto ao rio Tinhela, entre as freguesias de Tresminas e Alfarela de Jales, é ideal para promover o projeto turístico que idealizaram, focado na vertente terapêutica, mas não só. “Aqui temos água, natureza em estado rústico, vida selvagem, plantas, um bom solo, etc. É, basicamente, o sítio perfeito para as pessoas virem curar-se, relaxar e criar uma harmonia com a natureza. Esse foi o nosso sonho”, acrescentou.
Incêndios adiam sonho por um ou dois anos
Iniciado em 2018, o “Tinhela610” nasceu entre as aldeias de Reboredo e Vales, atravessado pelo Rio Tinhela, numa zona de antigos moinhos, com um investimento de um milhão de euros. Com abertura prevista para setembro deste ano, o empreendimento foi, no entanto, afetado pelos incêndios rurais no final do mês de julho, que provocaram prejuízos de cerca de 150 mil euros.
“Depois dos incêndios, ficamos devastados. O prejuízo foi enorme, principalmente ao nível do equipamento necessário para o funcionamento do empreendimento, como o sistema de abastecimento elétrico, de fornecimento de água, sistemas de aquecimento, caldeiras, etc., foi tudo destruído. Estamos agora a trabalhar com o Norte 2020 para encontrar uma solução, uma vez que o projeto foi financiado. Felizmente, toda a gente se mostrou disponível a ajudar, incluindo entidades públicas. O município foi muito prestável e está do nosso lado”, explicou.
Para já, a abertura será adiada entre um e dois anos. “O sonho pode ter sido adiado, mas não terminou”, referiu o casal, que mostrou vontade para trabalhar com as entidades locais, entre elas a Câmara Municipal e os conselhos diretivos de baldios, na recuperação daquele espaço natural e evitar que a tragédia se repita. “Precisamos de todos e temos esperança de que tudo volte ao normal. É uma boa oportunidade para regenerar a floresta, pode até servir de modelo para outros locais, esperamos ter o apoio das entidades e da comunidade para que este local não volte a arder”, sublinhou Edouard.
Holly e Edouard esperam, inclusive, que o Turismo do Porto e Norte de Portugal, através do Governo, crie linhas de apoio para minimizar as perdas provocadas pelos últimos incêndios. Algo que não é garantido que aconteça, uma vez que as únicas ajudas previstas são no âmbito da agricultura e da pecuária.
Autarquia demonstrou apoio na reabilitação do projeto turístico
Ana Rita Dias, vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, que no final do mês de agosto visitou o local, para se inteirar da verdadeira dimensão do prejuízo, mostrou-se determinada em ajudar o casal.
“Sempre tivemos ao lado deles para que este projeto fosse uma realidade. É diferenciador, não só na nossa região, mas em Portugal. Sendo um projeto diferente, integrado na natureza e verdadeira ente sustentável, o município não poderia deixar de estar ao lado destes investidores”, declarou.
Sobre o incêndio que fustigou a região e a chegada de possíveis apoios para minimizar os prejuízos, a edil lamentou a tragédia e mostrou-se resiliente. “Infelizmente, os incêndios são uma realidade do nosso país. Estamos a tentar ajudar a reerguer este investimento e por isso estamos cá para ajudar”, disse.
Além deste projeto, o fogo rural que impactou a paisagem das aldeias do planalto de Jales, deixou um rasto de destruição, não só nos pastos e em culturas e equipamentos agrícolas, mas também no turismo. O trilho Terra do Ouro, um percurso turístico inaugurado há poucas semanas, em Alfarela de Jales, foi devastado pelo incêndio, que destrui sinalética, mas principalmente a envolvente natural.
Ana Rita Dias confessou, por fim, que o potencial turístico, que reside principalmente na envolvente natural, deve ser reabilitado. “Há outras componentes turísticas que foram afetadas, além da vertente agrícola e pecuária. Se queremos ser um destino de natureza, de cura, de bem-estar, temos de apoiar estes projetos e dinamizar o potencial que existe”, concluiu.
Filipe Ribeiro