Dia da Árvore celebrado com plantação em zona ardida

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Cerca de 400 árvores foram plantadas em Tourencinho, uma das freguesias mais ameaçadas pelos incêndios de setembro de 2024.

O Secretariado dos Baldios de Trás-os-Montes e Alto Douro (SBTMAD) levou a cabo na quarta-feira, 26 de março, uma ação de reflorestação, com a plantação de cerca de 400 árvores folhosas, essencialmente carvalhos, na freguesia de Tourencinho.

A iniciativa pretendeu reflorestar zonas ardidas pelos incêndios de setembro de 2024 em Vila Pouca de Aguiar.

 “Pretendemos com esta plantação, criar um aumento da biodiversidade que foi afetada pelos incêndios”, disse Daniel Amorim, Diretor do Secretariado dos Baldios de Trás-os-Montes e Alto Douro (SBTMAD) e Diretor da BALADI (Federação Nacional dos Baldios).

A Fraga Fendida em Tourencinho foi o local escolhido por este Secretariado de Baldios para a ação de reflorestação.

É uma área que tem um solo propício à plantação. Vamos plantar árvores autóctones. Por ser uma zona que é circundada por caminhos florestais, é uma área que, em princípio, é mais resiliente ao incêndio”, apontou ao Notícias de Aguiar, Licínio Costa, Presidente da Assembleia da Comunidade Local dos Baldios de Tourencinho.

O também diretor da AGBATA (Associação do Agrupamento dos Baldios de Terras de Aguiar) e Diretor do SBTMAD explica que as árvores “resinosas são muito mais vulneráveis aos incêndios, já as folhosas são árvores resilientes e resistem ao fogo”.

A ação de plantação, que assinalou o Dia Mundial da Árvore, celebrado a 21 de março, foi organizada pelo Secretariado dos Baldios de Trás-os-Montes e Alto Douro, em parceria com a AGBATA e com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que abordou a importância da organização e gestão do território.

“Hoje, pensar a floresta de amanhã, implica mais conhecimento, estratégia, empenho e compromisso com o futuro. Porque, aos poucos, temos que divergir de um tipo de floresta que tivemos no passado, para uma floresta nova e que cumpra melhor aquilo que são as funções que nós desejamos no território”, salientou José Rosa, Chefe de Divisão de Gestão Florestal do Norte e Interior do ICNF.

O representante deste Instituto da Conservação da Floresta explica que “hoje em dia é reconhecido que a saúde mental das pessoas é um aspeto fundamental e que o contacto com a natureza e com o meio exterior e o meio ambiental tem tudo a ver com esse bem-estar que queremos para o futuro”.

Manuel Borges Machado, Presidente do Conselho Diretivo da Comunidade Local dos Baldios de Tourencinho explicou ao Notícias de Aguiar que há mais de 15 anos, nesta altura do ano, dependendo das condições atmosféricas, é partilhada com a comunidade esta ação. “(…) estamos a falar de árvores folhosas, e fazemos plantação também no monte”. A ideia é “sensibilizar a comunidade para a necessidade de termos uma floresta, mas que seja uma floresta ordenada, o que nem sempre é fácil”.

Borges Machado fala sobre a atividade e o envolvimento da população. “A nossa comunidade de baldios do Tourencinho tem um apreço enorme pela floresta. Embora não tenhamos muita floresta, porque grande parte ardeu, preservamos o nosso baldio (…). Temos 22 hectares no topo da serra que está classificado como Santuário de Caça, onde temos mais de cinco hectares semeados de centeio para as perdizes e onde, todos os anos, semeamos um a dois hectares de chícharo para alimentar a biodiversidade em termos de fauna”, disse.

“Temos também uma plantação de cerca de 160 hectares de árvores folhosas que também ardeu, mas já estamos com um outro projeto de replantação dessas áreas”, acrescentou o diretor do Conselho de Baldios de Tourencinho.

Após os incêndios do ano passado, Borges Machado diz que estão “a tentar fazer uma ação de reflorestação, quanto mais não seja para sensibilizar as populações”. O Presidente deste Conselho Diretivo afirma que “o baldio é das comunidades, é do povo” e fez questão de frisar que, dentro da política de preservação do baldio, por exemplo, “é intenção nossa não colocar painéis solares no nosso baldio. É um território que é para as pessoas e para a fauna. Temos eólicas porque precisamos das receitas do aluguer dos espaços, mas os painéis solares implicam que toda a área fique vedada e os compartes não tenham acesso a essas áreas”.

No decorrer da ação de reflorestação Licínio Costa adiantou que foi lançado um projeto para reflorestar terrenos agrícolas de cultivo que estão abandonados no baldio. “O objetivo não é prejudicar a agricultura e sim aproveitar para reflorestar uma zona que já foi agrícola no passado, porque o terreno é mais propício à plantação que pega muito melhor”.

O representante do ICNF, José Rosa, esclarece que foram colocados “elementos de naturalidade, espécies autóctones, numa zona de linha de água, que são áreas que à partida dão resiliência ao território e aproveitar essa oportunidade, de ter este espaço limpo, para colocar cá espécies que, no futuro, darão mais capacidade a este território de resistir em caso de ocorrência de um fogo”.

José Rosa lembra que “estas espécies, para além de arderem com mais dificuldade, a seguir a um fogo têm capacidade de regeneração (…). Estamos a tentar dar ao território elementos que lhe permitam superar estes acidentes (incêndios) e é uma questão de prevenção (…). À partida o território fica menos propenso a arder, com este tipo de espécies, mas não fica isento do perigo de arder. Tem é muito mais capacidade de recuperar no pós-fogo”.

Baldio contribuiu para a criação de 60 postos de trabalho

Daniel Amorim admite que a gestão do baldio de Tourencinho “tem trazido muita dinâmica à comunidade local”.

O diretor do SBTMAD refere que “é um baldio de referência nacional porque ajudou a criar mais de 60 postos de trabalho no baldio do Tourencinho, com a criação de duas IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social)”, referindo-se ao Centro Social Nossa Senhora do Extremo e ao Lar Padre Manuel do Couto. “Não só o baldio é utilizado para dinamizar a parte florestal e agrícola, como também a componente económico-social. A criação destes postos de trabalho ajudou a impulsionar e fixar a população e fez diminuir a emigração neste baldio porque a maior parte se devia à falta de oportunidades de trabalho”, clarificou Daniel Amorim.

Outros projetos de reflorestação

Licínio Costa menciona que além da ação de celebração do Dia da Árvore, também estão envolvidos noutras iniciativas como o Projeto de Estabilização de Emergência, um projeto que surge como apoio às Organizações de Produtores Florestais (OPF) e submetido pela BALADI ao Fundo Ambiental, tendo sido aprovados 120 hectares para ações de Estabilização de Emergência, essencialmente em áreas que foram afetadas pelos grandes incêndios.

Para Vila Pouca de Aguiar foram alocados 70 hectares, distribuídos de forma a envolver o maior número de baldios, disse a BALADI.

Um outro projeto envolvendo o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2014-2020 foi o lançamento da medida ‘8.1.4 Restabelecimento da Floresta Afetada por Agentes Bióticos e Abióticos ou por Acontecimentos Catastróficos’.

Daniel Amorim conta que o SBTMAD contactou os baldios que haviam sido afetados pelos incêndios e “todos quiseram fazer a candidatura uma vez que era financiada a 100% (…)”.

Com uma verba total de “477 mil euros para o concelho de Vila Real, Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena, para toda a área ardida, 318 mil euros foram para os baldios que arderam no concelho de Vila Pouca de Aguiar”, esclarece Licínio Costa.

Daniel Amorim acrescenta que “neste momento os projetos já estão a vir aprovados, só estamos à espera que venham os contratos para assinar os termos de aceitação e podermos iniciar as obras”.

A ação de plantação, que assinalou o Dia Mundial da Árvore, celebrado a 21 de março, foi organizada pelo Secretariado dos Baldios de Trás-os-Montes e Alto Douro, em parceria com a Associação do Agrupamento dos Baldios de Terras de Aguiar (AGBATA) e com o apoio do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Texto e fotos: Ângela Vermelho

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