Decorridos 49 anos desde as primeiras eleições autárquicas, em dezembro de 1976, o número de mulheres no exercício de cargos de liderança política é ainda muito reduzido. Ana Rita Dias caminha ao encontro da igualdade nas autarquias.
As mulheres chegaram ao poder autárquico em 1976. Eram cinco. Atualmente, são trinta e duas em 308 municípios portugueses. Ana Rita Dias está no leque dos 10,7% de mulheres que lideram câmaras. Fez subir a representatividade feminina e acredita que, apesar da política ainda a ser um mundo maioritariamente de homens, há lugar para uma evolução.
“Há uma evolução para que isso seja alterado e também incentivo as mulheres a participar na política e que sejam uma parte ativa na construção das políticas públicas”, disse a autarca de Vila Pouca de Aguiar.
Aos 45 anos, Ana Rita Dias admite que a maior participação feminina na vida política dos últimos tempos deve-se à lei da paridade. A sua aplicação não deveria ser obrigatória porque, “a política ou os lugares devem ter gente competente e gente que queira estar e não porque tem de ser imposta por uma lei”. No entanto, reconhece que sem essa orientação “certamente que teremos muito menos mulheres a participar na vida política e a serem integradas em determinados lugares ou listas” e, por isso, a presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar entende que a lei da paridade “é o mal necessário, pelo menos por enquanto”.
Desde 2019 que 40 % é a percentagem mínima de cada género nas listas. “Quanto aos 40%, como se aplicam a homens e a mulheres, acho que poderá estar já num momento de evolução nesta questão da igualdade de género. Espero não termos de chegar aos 50/50 e que, de facto, se note que a participação das mulheres na política ou em lugares de decisão ou liderança é muito importante e que elas conseguem fazer o trabalho político necessário às suas populações, sem necessitar da aplicação de quotas”.
Há mais de um ano no cargo de Presidente do Município, sente que “ser mulher dificulta mais o caminho que é preciso fazer”, mas isso, não a faz baixar os braços. “Quando se gosta, e quando se faz determinado trabalho ou se está em determinado lugar por gosto, por entender que de facto é essa a missão, a mulher consegue, e conseguimos levar aquilo que pretendemos avante”.
O interesse pela política manifestou-se cedo. Deu os ‘primeiros passos’ tinha 14 anos. Começou na JSD [Juventude Social Democrata] e, até ao momento, é militante do Partido Social Democrata (PSD). “Costumo dizer que sou do tempo daqueles que ainda raspavam os placares de alumínio ou de madeira para colar depois as imagens do candidato (…). Participei em várias campanhas desde a altura do Dr. Gil, depois também da parte do Dr. Costa Pereira, (…) depois, evidentemente com o meu pai, estive mais envolvida nesta questão da campanha e do partido, mas sempre estive nos órgãos da JSD, sempre estive ligada ao associativismo, sempre fui muito ativa nas dinâmicas até da escola e, portanto, acho que isto realmente já está no sangue”, salienta.
Quando foram criados os núcleos das mulheres sociais-democratas, também fez parte dessa organização e liderou como ainda lidera hoje, o Núcleo das Mulheres Sociais- Democratas em Vila Pouca de Aguiar.
Fez parte da Assembleia Municipal de Vila Pouca de Aguiar, onde o debate político sério fez despertar mais o gosto pela política. Em outubro de 2013 chegou à vereação da Câmara Municipal e desde fevereiro de 2024, com a eleição de Alberto Machado nas legislativas, assumiu o comando do Município de Vila Pouca de Aguiar. Um “desafio” não muito planeado, mas com o tempo desejado.
“Evidente que, assumindo sempre o lugar de Vice-Presidente e estando neste lugar e na vida política há muitos anos, começamos a pensar no futuro e efetivamente desde o último mandato comecei a ponderar e a pensar que, de facto, o desafio de ser Presidente da Câmara seria ainda maior, mas que estaria ao meu alcance e que poderia lutar e estar neste compromisso com as pessoas e com Vila Pouca de Aguiar. Por isso é que a minha disponibilidade para ser candidata e a convicção de ser a candidata à Câmara Municipal continua em cima da mesa”.
Chega à autarquia pelas 08h30 e dificilmente sai antes das 19 horas. Reconhece que a conciliação deste cargo público com a vida privada/familiar é talvez o principal obstáculo na atividade política, mas sente o apoio da família. “Não digo que é fácil, as minhas filhas sentem muito este peso de a mãe agora ter mais responsabilidades, a ausência de casa também é maior como é evidente, mas no fim, acho que elas percebem. E nós, mães, temos de transmitir um bocadinho esta luta que temos, aos nossos filhos. As minhas filhas, que serão as mulheres do futuro, devem perceber que a vida nem sempre é fácil, nem sempre conseguimos ter aquilo que nós desejamos ao nosso lado (…) . O facto de eu não estar tão presente em casa, como elas estavam habituadas, não é o motivo para dizerem que a mãe não as apoia”.
Com duas filhas, Ana Rita Dias tenta acompanhá-las na escola e nas atividades, ainda que, “com menos intensidade do que fazia antes”.
“É muito difícil, às vezes, conseguirmos estar em todo o lado, mas um bocadinho que seja, acho que é possível. Acho que as pessoas percebem quando nós dizemos “não posso fazer determinada coisa ou não posso estar em determinado local porque tenho um compromisso familiar´, pois os lugares são passageiros, mas a família fica”, afirmou Ana Rita Dias, advogada de profissão.
Se a conciliação da atividade política e familiar é talvez o principal obstáculo, a visão mais “prática e objetiva” das mulheres é um ‘trunfo’.
“Acho que uma mulher consegue criar mais empatia com as pessoas e até acolher melhor determinadas situações (…)”.
Sara Esteves
Fotos: Carlos Daniel Morais

