III Fórum Peregrino reúne intervenientes para debater desenvolvimento rural, património jacobeu e sustentabilidade do Caminho de Santiago

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Nos dias 22, 23 e 24 de maio realizou-se o III Fórum Peregrino, no Casino de Pedras Salgadas e no auditório da Santa Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar. Juntou administrações locais, peregrinos e turismo para conferenciar sobre a arte, o património jacobeu e a sustentabilidade no Caminho de Santiago.

O evento foi organizado pela Federação Portuguesa do Caminho de Santiago e pelo Município de Vila Pouca de Aguiar, e foi estruturado em dois momentos com características distintas.

O primeiro dia do III Fórum do Peregrino iniciou com a sessão de abertura com “alguns dos maiores oradores e entidades de referência no tema do Caminho de Santiago”, refere Catarina Chaves que, além de ser Técnica Superior no Município de Vila Pouca de Aguiar, também agrega o cargo de Técnica de Apoio à Direção da Federação Portuguesa do Caminho de Santiago.

A sessão de abertura contou com a participação de Dom António Augusto de Oliveira Azevedo, Bispo de Vila Real; com Ildefonso de La Campa Montenegro, Presidente da Federação Europeia do Caminho de Santiago; Jorge Sobrado, Vice-Presidente da CCDR-N (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte); e ainda Ana Rita Dias, que acumula duas funções neste fórum, uma vez que é Presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar e Presidente da Federação Portuguesa do Caminho de Santiago. A acrescer, há ainda a particularidade de que o Município de Vila Pouca de Aguiar ocupa, neste momento, a função de secretariado na Federação Europeia do Caminho de Santiago, pelo que há sinergias em três esferas: a nível local, nacional e europeu.

Ana Rita Dias referiu que a peregrinação a Santiago de Compostela “não é apenas uma caminhada, é, antes de tudo, um percurso de fé, um caminho interior marcado pela busca espiritual, pela entrega e pela superação pessoal”. Salientou ainda que “ao longo de séculos, milhões de peregrinos traçaram este itinerário, movidos por promessas, por devoções, por inquietações ou por um desejo profundo de encontro com o sagrado. Esta dimensão religiosa e espiritual do caminho é o que lhe confere profundidade e universalidade e é nossa responsabilidade como Federação, como instituições, como sociedade, preservar este legado e garantir que os valores que o fundam continuam vivos e acessíveis às gerações futuras”.

Também Rogério Martins, Presidente da Junta de Freguesia de Bornes de Aguiar, à qual pertence a vila termal de Pedras Salgadas, interveio na sessão de abertura no Casino de Pedras Salgadas, que se insere no Parque Termal da vila, e que faz parte do caminho português interior.

Após este momento introdutório, procedeu-se à homenagem a Francisco Singul Lorenzo, que muito tem contribuído para o Caminho de Santiago.

Posteriormente, inaugurou-se a primeira mesa redonda que se focou na apresentação dos primeiros resultados do Projeto Ultreia SUDOE em que o objetivo é “ativar o desenvolvimento das zonas rurais, em especial os recursos culturais patrimoniais, o artesanato e os produtos regionais, ao longo dos caminhos de Santiago, na Europa”, indica Catarina Chaves. Tem parceiros em Portugal, Espanha e França, e termina em 2027.

Nesta palestra foi apresentado o Guia de Acessibilidade para Gestores no Caminho, por Marta Cano, da Associação AMICA. Seguiu-se Carlos Fernández, da Fundação Camino Lebaniego, com o tema da Parada do Peregrino, cujo projeto tem pontos onde os peregrinos passam e lhes é dada informação, que em Portugal será em Vila Pouca de Aguiar, permitindo também uma contabilização dos mesmos. Por fim, Pedro Pereira, da Universidade Nova de Lisboa, expôs os resultados preliminares de um estudo que se está a fazer, relativo aos Efeitos das Alterações Climáticas nos Caminhos de Santiago.

Foi sob o tema Caminho de Santiago – Turismo Sustentável? que se retomou o Fórum na parte da tarde, moderado por Pedro Pontes, das Termas do Centro, para discutir a dicotomia do Caminho de Santiago entre ser sustentável ou ser turismo. Para tal contribuíram Gumersindo Bueno, da Fundação Santa Maria la Real; José Carlos Silva, do Turismo de Portugal; e Xerardo Pereiro, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Prosseguiu-se para o segundo painel que foi dedicado à Arte e Património, mais vocacionado para a iconografia jacobeia, para perceber que características tem o património e se se relacionam com o tema do Caminho de Santiago. A moderação foi de Delfim Bismarck, Historiador, com Francisco Singul Lorenzo, Xacobeo; José Augusto Costa, da Rota do Românico; e Cecília Pereira Marimón.

Assinatura de Protocolo de Colaboração com a UTAD

No final do primeiro dia do III Fórum do Peregrino foi assinado um protocolo com a UTAD, com o intuito de estreitar relações entre a federação e as entidades académicas para, no futuro, se desenvolverem estágios conjuntos, teses de mestrado e estudos científicos.

Segundo dia com Ação de Capacitação Certificada pela academia Digital

A 23 de maio foi realizada uma ação de capacitação “que está certificada pelo Turismo de Portugal, através do Programa Formação +Próxima”, clarifica Catarina Chaves, trata-se de uma parceria com a Escola de Hotelaria de Lamego.

O primeiro tema abordado foi a Arte e Património Jacobeu, em parceria com a Rota do Românico. Ainda da parte da manhã, debateu-se o tema da Acessibilidade no Caminho de Santiago, por Marta Cano da Associação AMICA, que explicou e exemplificou, com momentos práticos, algumas melhorias que se pode fazer de forma imediata, a nível do atendimento, no Caminho de Santiago.

Já na parte da tarde, o painel debruçou-se sobre a Hospitalidade na Adaptação de Alojamento às necessidades do peregrino e terminou com um tema mais técnico, relacionado com a Sinalética e Manutenção dos Caminhos de Santiago, para que não ofereçam dificuldades aos peregrinos.

Visitas técnicas aos albergues

Já no último dia do Fórum, as visitas tiveram como propósito conhecer os albergues que existem no concelho, em Parada e Sabroso de Aguiar, e aproveitar para fazer o levantamento da acessibilidade num dos troços do Caminho.

Testemunhos

Cada mesa redonda terminou com o testemunho de um peregrino, na primeira pessoa, que partilhou o que sentiu, o que mais gostou e as principais dificuldades. No dia 22, Maria da Graça Sanches da Gama, uma pessoa com muita experiência, segundo Catarina Chaves, pertencente ao Centro de Estudos Jacobeus e Vice-Presidente da Direção da Federação Portuguesa Caminho de Santiago, falou da peregrinação da Rainha Santa Isabel.

Peregrinação acessível para todos

“Seja a nível da acessibilidade, das alterações climáticas ou outros, queremos partir de um levantamento prévio junto dos peregrinos porque toda a estratégia e todo o projeto se pretende o mais participado possível”, relata Catarina Chaves. Desta forma, aproveitam o fórum e a presença de muitas pessoas que já fizeram os caminhos para lançar um questionário onde possam dar a sua opinião sobre as peregrinações que, de futuro, “vão subsidiar a estratégia” que poderão apresentar no próximo ano.

Com o apoio da Associação AMICA e inserido no Projeto Ultra SUDOE, está ainda a ser realizado um estudo de acessibilidade ao longo do Caminho de Santiago. Catarina Chaves explica que têm “pessoas com necessidades especiais, nomeadamente em termos físicos, a percorrerem e a conhecerem os pontos de interesse ao longo do Caminho, para fazer a avaliação da acessibilidade e sugestões de melhoria” num troço do caminho.

A Presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, referiu-se ao Fórum como sendo “um espaço de partilha, de construção, para que possamos juntos encontrar caminhos comuns para que cada peregrino, que percorra o nosso território, leve consigo mais do que paisagens e leve fé, leve memória e leve humanidade”.

Fotos: Ângela Vermelho e CM VPA

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