A festa da Páscoa é o momento alto do ano, quer no ciclo da liturgia quer no percurso das nossas vidas. É o centro donde irradia a luz, o primeiro dia que ilumina todos os outros dias. Embora celebrada, este ano, debaixo das sombras de uma pandemia, com as consequentes limitações no encontro das famílias e nas festivas exteriores, a Páscoa não perde nem fica diminuída no seu significado. Pelo contrário, neste contexto em que se têm acentuado o desejo de liberdade, a ânsia de vida mais partilhada e a expectativa de um futuro com horizontes mais abertos, o acontecimento pascal evidencia-se como a resposta de Deus às esperanças humanas.
Os cristãos proclamam que Jesus, ressuscitado dos mortos ao terceiro dia, segundo as escrituras, foi confirmado pelo Pai como o Messias, o Cristo. A esta luz, Jesus de Nazaré já não é uma vida passada, uma história encerrada ou uma palavra dita. Dado que ressuscitou e está vivo, Ele está sempre presente, a sua vida continua a ser alimento, a sua história a servir de inspiração e a sua palavra a ser de salvação para hoje.
A experiência fundamental da Páscoa é a do encontro com Cristo vivo. Assim sucedeu, segundo os evangelhos, com todos aqueles e aquelas que foram surpreendidos com a novidade daquela presença inesperada. Foi o caso das mulheres e dos discípulos e ainda daqueles dois que, a caminho de Emáus, descobriram Jesus como companheiro de viagem, sentiram como as suas palavras faziam arder o coração e abriram os olhos para a sua nova forma de presença no pão partido.
Para todos nós, membros desta Igreja diocesana de Vila Real, celebrar esta Páscoa é uma oportunidade para o encontro com Cristo vivo e ressuscitado. A vivência desta festa com menos sinais exteriores favorece uma celebração mais espiritual do mistério que ela celebra e ajuda a um encontro mais profundo com Cristo. O mais importante é estar disponível para esse encontro com o Ressuscitado que é sempre, como atestam os evangelhos, gerador de alegria e paz e tem um efeito transformador da vida. É Ele que verdadeiramente nos pode libertar do medo e da angústia, é a sua ressurreição que nos abre a possibilidade da vitória definitiva sobre o mal e sobre a escuridão da morte.
A celebração desta Páscoa deverá produzir um forte impacto nas comunidades cristãs. Elas são chamadas a tomar mais consciência de que na sua raiz está Páscoa do Senhor e de que são o lugar em que Ele se faz presente. Em plena pandemia que afetou muito a vida e atividade das comunidades, seria desejável que na celebração pascal se renovassem as energias espirituais de todos os seus membros, traduzidas num maior entusiasmo e dinamismo pastorais. Fazem falta comunidades com verdadeiro estilo pascal, lugares de encontro e partilha de uma fé alegre. Elas são necessárias para ligar e comprometer mais os fiéis batizados e indispensáveis para que acolher todos aqueles que procuram um lugar para fazer uma autêntica experiência de encontro com Cristo vivo.
A liturgia que atinge a expressão mais elevada da sua beleza nas celebrações pascais, é por excelência um lugar de encontro com Cristo vivo e ressuscitado. Aquele que prometeu «onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mateus 18,20), é sempre o centro da vida das comunidades. Desde a comunidade mais pequena ou simples de uma aldeia até à mais populosa de uma vila ou cidade, é o mesmo Senhor que congrega, o mesmo tesouro de fé que se celebra. Impõe-se por isso a necessidade de não poupar esforços para que as liturgias sejam mais dignas e bem preparadas, mais vivas, autênticas e festivas. Celebrações mais pascais, sinais da presença de Cristo vivo.
Nos nossos dias, uma autêntica vivência da Páscoa deverá suscitar ainda o reconhecimento do rosto do outro como nosso irmão. O Cristo pascal manifesta-se de modo preferencial no rosto do nosso irmão mais pobre, doente ou sem-abrigo. Aquele que disse: «Sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mateus 25,40), desafia-nos a viver uma fé pascal que concretize em gestos de caridade. Estes tempos difíceis, em que à nossa volta cresce o número de pessoas e famílias com dificuldades várias, a celebração desta Páscoa tem de se expressar na multiplicação de sinais de proximidade, de solidariedade e de autêntica fraternidade.
É uma graça celebrar a Páscoa deste ano, acolher o dom maior da salvação, a promessa de vida e liberdade que Jesus Cristo nos oferece. Dons ainda mais preciosos quando a cultura da vida é questionada, algumas liberdades parecem retroceder e o futuro surge com sombras. Com a confiança de que o Senhor Ressucitado está connosco, cheios do seu Espírito, renovemos o nosso compromisso pascal de (re)construir vidas humanas mais felizes, comunidades mais fraternas e sociedades mais livres e justas.
Que Jesus Cristo ressuscitado cumule a todos das suas graças e bênçãos. O Seu Espírito Santo nos encha de vida, nos ilumine com a sua sabedoria, fortaleza e paz. E Maria, Nossa Senhora da Conceição, nossa padroeira, interceda por nós. Uma Santa Páscoa para todos.
António Augusto de Oliveira Azevedo, Bispo de Vila Real