Da rádio pirata, à loja de eletrodomésticos em plenos anos 80

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Década de 80, pós 25 de abril. O panorama radiofónico e a tecnologia em Portugal estava a dar os primeiros passos. As rádios piratas começaram a surgir de norte a sul do país e Vila Pouca de Aguiar não foi exceção. Fomos até Campo de Jales conhecer António da Fonte, popularmente conhecido como Trix, onde sintonizamos na história da “Rádio Planalto de Jales” e na atual loja de eletrodomésticos “Electrotrix”.

Por: Daniela Parente

Após o 25 de abril de 1974, o panorama radiofónico do país encontrava-se subdesenvolvido e não prometia muito. Foi a partir desse ponto de viragem que surgiram os primeiros jovens apaixonados pela rádio que, como num ato de rebeldia, criaram as chamadas “rádios pirata”. Estas eram criadas por aficionados pela tecnologia, que estavam a par de toda a telegrafia sem fios. Muitos deles emitiam a partir de casa, ao serão, em estúdios improvisados depois de um dia de trabalho. A rádio era o seu hobby.

No meio das centenas de rádios pirata por esse Portugal fora, encontrávamos a “Rádio Planalto de Jales”, ou por muitos conhecida como “Emissora Trix”. A emitir a partir de Campo de Jales e criada com o intuito de “animar os mineiros da altura”, esta novidade à época nasceu das mãos de António da Fonte.

Por poucos conhecido como António da Fonte, mas sim como “Trix”, não pode começar a história da Rádio Planalto de Jales, sem antes explicar de onde surgiu a alcunha “Trix”, que veio curiosamente do mundo da rádio, e que o próprio considera ser “o nome artístico”.

Em tempos montei uma rádio em Campo de Jales. Na verdade, era só uma brincadeira para me entreter com os mineiros que na época trabalhavam nas minas. Essa mesma emissora foi feita na minha oficina e eu queria dar-lhe um nome. Ficou a chamar-se precisamente “Emissora Trix” porque nessa altura andava a fazer um curso de correspondência de rádio e de radiotécnico. Muitos dos manuais desses cursos estavam escritos em línguas estrangeiras e o esquema dessa emissora que fiz em Campo de Jales foi tirado de um manual que mostrava o esquema das ligações necessárias, criado por um engenheiro alemão que tinha um nome gigante e complexo, mas que terminava em “Trix”. A partir daí ficou a “Emissora Trix” e por consequência eu fiquei também com o nome”, contou.

Para além dos concursos e discos pedidos, que já na época faziam furor entre os ouvintes, a emissora de Campo de Jales começou por implementar os relatos de futebol, nomeadamente de uma equipa que os mineiros constituíram na altura.

Esta era a novidade da época. A rádio pirata, “que emitia até ao alto de Alfarela”, permitiu reunir uma série de histórias que hoje, António da Fonte, recorda e partilha sempre que se fala da rádio, aquela que ele “sempre teve na alma”. “Havia um rapaz que gostava tanto daquilo que dizia à mulher que ia trabalhar e fugia para a rádio para ir meter música”, recordou.

No entanto, anos antes da Rádio Planalto de Jales, o “bichinho da rádio” já estava bem sintonizado na vida de Trix. “Na primeira emissora que montei, eu tinha por volta de 17 anos e essa rádio só tinha um alcance de 500 metros. Depois fui para a tropa e lá também decidi seguir o rumo da eletrónica. Cheguei a ir para Paço de Arcos fazer o curso de rádio montador. Na altura fiz muitos trabalhos para uma emissora que abriu em Murça”, explicou.

Nos anos 80 era impossível controlar os piratas das rádios emergentes. Tomaram de assalto as frequências e conquistaram o interesse dos ouvintes. Perante a situação caótica da radiodifusão, o Estado Português interveio e legislou sobre as rádios livres, que assim deixaram de o ser, em 1989. A partir dessa data chegou o fim do movimento das rádios piratas em Portugal.

Depois da legalização das rádios, a Rádio Planalto de Jales passou para Vila Pouca de Aguiar e é atualmente a Rádio Clube Aguiarense.

Reportagem publicada na íntegra no dia 10 de março de 2020, na edição nº 276 do Notícias de Aguiar.

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